Na
maioria dos estados, porém, prevalece o desequilíbrio fiscal agravado pelo
Pacto Federativo.
Por:
Tesouro Nacional e governos estaduais
Apenas
dois Estados da Amazônia Legal começaram o ano de 2014 com as contas azuis. O
Pará teve o melhor desempenho financeiro da região, seguido pelo Amapá, e o
terceiro melhor desempenho em arrecadação própria do País. Os demais governos
amazônicos enfrentam sérias dificuldades para manter a receita maior do que a
despesa.
Os
Orçamentos Estaduais de sete dos oito vizinhos do Pará são quase todos
consumidos com pessoal e custeio.
Sobra pouco - às vezes, nada para
investimentos. Com isso, cresce o endividamento, numa equação perigosa que
ainda é fatorada pela retração progressiva das transferências federais. O
resultado é o desequilíbrio.
A situação
é idêntica em outras sete unidades da Federação, segundo dados do Tesouro
Nacional. No mapa fiscal brasileiro, mais da metade do País (14 das 27 unidades
federativas) está no vermelho.
A presença do Pará no rol dos 13 estados que
obtiveram resultado primário positivo no ano passado é saudável, mas não o
torna imune à "praga" do desequilíbrio.
Ela
avança por todo o território nacional, disseminada, entre outros motivos, pelo
esgarçamento do federalismo, um conceito que nasceu "mocinho", mas assumiu o papel de vilão nas
relações entre Estados, Municípios e União. Em vez de equalizar as finanças
desses três vértices de receitas e despesas, o Pacto vigente reverbera as
dissonâncias.
O Pacto
Federativo é o escopo dos mecanismos de redistribuição dos impostos arrecadados
no País. É com base nessa pactuação que se fixam, por exemplo, as quotas do
Fundo de Participação dos Estados (FPE).
Foi justamente a queda no valor do
repasse do FPE (mais de meio bilhão de reais, só no ano passado) que quase
provoca um desequilíbrio nas contas paraenses no início deste ano.
Segundo o
governo do Estado, isso só não aconteceu, porque o governo reagiu a tempo. Num
primeiro momento, reduziu o número de cargos comissionados de 3.758 (2010) para
3.084 (2014) e limitou por lei a 500 o número de assessores especiais que eram
mais de 1 mil em 2010 e em outros tempos já haviam chegado a 2 mil.
Em
janeiro, o governo ainda desautorizou por decreto as renovações de contratos de
temporários, proibiu horas extras e plantões exceto para servidores de
áreas-fins ou situações excepcionais e suspendeu, temporariamente, as
Gratificações de Tempo Integral de cerca de 2% dos 105 mil funcionários
públicos estaduais, sem afetar a remuneração de 98% dos servidores.
A
economia imediata com essas medidas é significativa. Com o distrato e a não
renovação dos contratos de temporários, o Estado poupou mais de R$ 1,3 milhão.
No total, enxugaram-se R$ 4,8 milhões do custo-salário.
Perda de
meio bilhão provocou corte na própria carne.
Em
janeiro de 2011, quando tomaram posse os governadores que estão hoje em fim de
mandato, somente dois Estados brasileiros deviam mais do que recebiam. Um
deles, o Pará, encerrara 2010 com um resultado primário negativo de R$ 433
milhões e R$ 140 milhões de passivo trabalhista.
Os
números do Tesouro Nacional revelam que em um ano, o atual governo dissipou o
risco de colapso financeiro e, graças ao esforço de arrecadação, à contenção do
custeio e à priorização de investimentos, reverteu o rombo fiscal.
Fechou
2011 com resultado primário positivo de R$ 738 milhões. Em 2012, o superávit
saltou para R$ 774 milhões, cinco vezes acima da meta pactuada com o Programa
de Ajuste Fiscal. Enquanto o Pará se defendia com austeridade, o desequilíbrio
propagava-se sem dó nem piedade pelo País. Em 2012, já eram oito os Estados com
as contas no vermelho.
Em 2013,
a situação se agravou: 13 estados e o Distrito Federal, mais da metade das
unidades da Federação, encerraram o exercício mais devendo do que recebendo. O
ano de 2013 foi atípico.
As incongruências do Pacto Federativo se pronunciaram
como um tumor na espinha dorsal das finanças estaduais. Houve uma queda
vertiginosa das receitas transferidas, em todo o Brasil, sobretudo do Fundo de
Participação dos Estados.
No Pará,
esse hiato no Orçamento ameaçou o equilíbrio fiscal. Subtraiu da previsão de
receita um quinhão determinante para honrar a política de remuneração dos
servidores, que lhes proporcionou aumento real de 25% em três anos.
A redução
nas transferências abalou, portanto, todo o planejamento feito com base nas
previsões e metas tanto de arrecadação própria quanto dos repasses federais,
cujos resultados, entre outros componentes, consolidam o Orçamento.
Embora
tenha obtido em 2013 um resultado primário positivo, o Pará sentiu o impacto do
corte nos repasses. Só do Fundo de Participação dos Estados (FPE), perdeu R$
400 milhões, sem contar o emagrecimento do Fundeb e o atraso na transferência
de outras fontes. Além disso, no ano passado, o Governo Federal foi pródigo nas
desonerações fiscais.
A isenção
do IPI para carros e linha branca, festejada por fabricantes e consumidores,
deixou a conta para ser paga por prefeitos e governadores, que viram
dissolver-se dos seus orçamentos mais de R$ 2,5 bilhões. O Pará deixou de
receber R$ 100 milhões de IPI em 2013. Com meio bilhão de reais a menos, o
Governo paraense ultrapassou o limite prudencial de gastos com pessoal fixado
em 48,7% pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
A conta é
simples. Se o bolo dos recursos diminui porque o governo federal retém parte do
que deveria liberar, mas a folha de pagamentos cresce (somente o aumento do
salário mínimo e o pagamento do piso nacional do magistério acrescentaram R$ 45
milhões), sobe também o percentual de comprometimento da receita corrente
líquida com salários.
Jatene:
"O pacto chegou no auge do esfacelamento"
Só um
novo modelo de Pacto Federativo é capaz de reequilibrar as relações entre
estados, municípios e o governo federal, preservando a capacidade daqueles de
arrecadar sem prejudicar sua possibilidade de investir.
É isso que está em
pauta no Congresso Nacional e deverá ocupar senadores e deputados federais com
a missão de rever alguns "monstros" do pacto vigente. Muitos dos
quais maltratam sobretudo o Pará, como a Lei Kandir, a cobrança do ICMS somente
no local de consumo da energia elétrica, a definição das quotas do FPE, entre
outras regras que solapam os pilares financeiros do Estado.
Para se
ter uma ideia do tamanho da distorção, em 1988, a União repassava a estados e
municípios 88% de tudo o que arrecadava. Hoje, fica com cerca de 60% dos
valores de impostos e tributos, cabendo aos Estados 24% e aos municípios 16%.
Ou seja: o Governo Federal centraliza os recursos e socializa as
responsabilidades.
Neste
modelo, os investimentos em saúde, educação e segurança, entre outras áreas
prioritárias, ficam a cargo de quem recebe a menor fatia. "Temos de rever
o Pacto Federativo, que perdeu sua essência.
E nessa repactuação a União deve
voltar a ser concebida com o real significado de sua palavra. Não disputando
recursos, e sim dividindo com os Estados e Municípios tanto as obrigações como
as fontes, de uma forma mais justa", propõe o governador Simão
Jatene.
Fonte: ormnews.com.br
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